Esperançar é preciso

Luiz Fernando dos Santos
19/1/2021
Devocional

“Onde está então minha esperança? Quem poderá ver alguma esperança para mim?” (Jó

17.15)

Dizem que o ‘verbo’ esperançar foi usado a primeira vez pelo educador Paulo Freire. Eu

mesmo o ouvi, ainda quando jovem, nos lábios de Dom Paulo Evaristo, card. Arns, falecido

arcebispo de São Paulo. A fonte, pouco importa, mas o fato é que desde sempre passei a amar

esse tempo verbal do substantivo feminino esperança. Mais do que nunca ‘esperançar’ é

preciso.

Esperança e otimismo não são exatamente a mesma coisa. O otimismo se funda em

probabilidades, conta com o aleatório, se agarra ao imponderável. O otimismo tem as suas

bases em elementos da natureza, quer no pensamento do próprio homem ou em que haja

uma ‘serendipidade’, isto é, a descoberta de uma coisa boa por acaso.

A esperança, por sua vez, é uma virtude cristã e se fundamenta primeiro no caráter santo, bom

e reto de Deus. Do Senhor só temos a esperar coisas boas, que edificam, que nos trazem paz e

alegria. A esperança se agarra ao fato de que o Pai é sábio e soberano e que em suas mãos e a

partir de suas mãos, as tristezas, as dores e as angústias desta existência, de alguma maneira

inescrutável, trabalham para o nosso bem. Não um bem mirado por nós ou definido por nós,

mas um bem maior, que diz respeito a nossa vida na eternidade e a correção de rumos nessa

vida presente.

A esperança tem os olhos no retrovisor da história, seu chão é o passado e não tanto o

presente. Os que fincam a sua esperança no presente logo são consumidos ou pela ansiedade

ou pela alienação . Aqui entra o papel extraordinário das Sagradas Escrituras, elas nos levam

ao testemunho da história da fidelidade de Deus e seus grandes feitos em favor do seu povo e

de como Ele não trata com indiferença nem mesmo aqueles que o renegam. A Bíblia nos atesta

que para Deus nada é aleatório, tudo tem um fim, um propósito determinado pelo Eterno.

O texto sagrado nos assegura que para o Altíssimo não existem impossíveis e que no final da

história prevalecerá a sua vontade sempre boa, santa e agradável. Também, a Palavra de Deus

nos testifica ao coração de que Ele é veraz e que jamais deixou de cumprir uma só de suas

promessas. Mas, de maneira subordinada e sempre necessitada de exame pela Bíblia, também

a história da igreja e de seus santos ao longo dos séculos, revelam o mesmo enredo das

Escrituras na vida de pessoas tão comuns e ordinárias como eu e você. Olhando para trás, a

esperança nos enche de forças para suportar o presente e de encorajamento para encarar o

futuro.

Todavia, a esperança nos liga e ao mesmo tempo nos empurra também para o tempo que

ainda não veio. Nos faz esperar pelo futuro sem medos e até certo ponto, sem surpresas

definitivas. A esperança nos faz saber de antemão que mal, morte, alienação não possuem a

última palavra sobre a nossa existência. São realidades nas quais estamos inseridos, contudo,

são realidades caducas, fadadas a desaparecer e o bem, a vida e a verdade triunfarão no fim.

Nele (Jesus) não há possibilidade de vitória, uma chance para as coisas darem certo no futuro.

Absolutamente. Nele (Jesus), somos mais que vencedores e desde já. No presente, a esperança

é como uma semente que se espalha e rega. Espalhamos a esperança insistindo todos os dias

em fazer o bem e jamais nos deixar vencer pelo mal ou pela indiferença (outra forma de mal).

A esperança deve ser semeada com gestos concretos de indignação com as injustiças e

maldades presentes no mundo.

A esperança é depositada no solo da história quando nos dirigimos de maneira intencional ao

encontro dos que choram, sofrem privações, são marginalizados, vítimas do descaso ou da

violência. Quando usamos as ocasiões e os meios à nossa disposição para tomar o lado certo

da história, como fez Jesus: “ Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o

lugar onde está escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar

boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da

vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor. Então ele

fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos

nele; e ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir "

(Lucas 4:17-21), claro, sem a exclusão de quem quer que seja.

Regamos a esperança quando intensificamos às nossas orações unidas ás angústias e

esperanças da hora presente do mundo, quando intercedemos pelos santos, pedimos em

oração a conversão de pecadores e oramos suplicando a Deus que renove a face da terra,

trazendo justiça a todos. Regamos a esperança quando não negamos amor, quando recusamos

o ódio de qualquer natureza e denunciamos o pecado em qualquer modalidade. A esperança é

disseminada entre os homens, é regada e cresce vicejante no mundo quando não desistimos

de esperançar. Esperance você também!

Reverendo Luiz Fernando é um esperançador na Igreja Presbiteriana Central de Itapira